
MAPUTO, 20 DE OUTUBRO DE 2025 – O Presidente da República, Daniel Francisco Chapo, defendeu hoje em Genebra, Suíça, que a iniciativa “Aviso Prévio para Todos” é uma “obrigação moral e política para com os povos e para com as gerações futuras”, sublinhando que o investimento em sistemas de alerta é “um investimento na esperança, na dignidade e na soberania humana”.
O Chefe do Estado falava como orador principal no Encontro de Alto Nível sobre Aviso Prévio para Todos, a convite da Secretária-Geral da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), Andrea Celeste Saulo, partilhando a experiência de Moçambique como um dos países mais vulneráveis do mundo, mas proactivo na adaptação e resiliência climática.
No seu discurso, o Presidente Chapo classificou as alterações climáticas como “uma realidade presente e devastadora”, que atinge em particular a África Austral. Citando o Banco Mundial, o estadista lembrou que Moçambique está “entre os três países africanos mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas”.
A sua presença no evento, disse, traduz um “forte sentido de dever” face a uma crise que já produziu ciclones devastadores como Idai, Kenneth e Freddy, os quais “destruíram infra-estruturas, deslocaram comunidades inteiras e roubaram sonhos do povo moçambicano”. No entanto, o país aprendeu uma “lição fundamental, que é: um alerta a tempo é uma vida salva”.
Como “campeão africano” em matéria de resposta a emergências, Moçambique tem assumido uma “posição de liderança regional” na integração dos sistemas de aviso prévio, ao mesmo tempo que coloca “a hidrometeorologia e a resiliência climática no topo da agenda política nacional”.
Esta acção, informou, o Presidente da República, é concretizada pelo programa “Um Distrito, Uma Estação Meteorológica”, que visa expandir e modernizar a rede de observação, descentralizando as capacidades técnicas.
O Presidente moçambicano detalhou o sistema de alerta, que vai além da emissão de boletins técnicos, chegando “às comunidades através de rádios locais, mensagens móveis e lideranças tradicionais locais”. Trata-se de “um sistema que fala a língua do povo, compreende os ritmos da natureza, da cultura local e mobiliza a sociedade moçambicana”.
Informou que a estratégia foi formalizada em 2024, com o lançamento do Roteiro Nacional de Implementação da Iniciativa “Aviso Prévio para Todos”, que define responsabilidades nos quatro pilares do sistema: observação, previsão, comunicação e resposta.
A eficácia do sistema é reforçada pela inovação e investimento, afirmou ainda, mencionando o apoio da iniciativa SOFF (Systematic Observations Financing Facility). Graças a este apoio, Moçambique está a instalar radares meteorológicos que integrarão a Rede Básica de Observação Global (GBON) da OMM.
O Chefe do Estado deixou saber igualmente que o país está, ainda, a intensificar esforços para incorporar a digitalização e a inteligência artificial na modernização dos sistemas e processos de aviso prévio precoce, visando construir um sistema cada vez mais integrado, previsível e acessíve”.
Apesar dos avanços, deixou um alerta: “O financiamento climático em Moçambique é ainda limitado”, e o Orçamento do Estado “não é suficiente para financiar um modelo de crescimento resiliente às alterações climáticas globais”.
Por isso, apelou à mobilização de novas parcerias público-privadas, mecanismos de financiamento inovador e acessível, e a reafirmação da responsabilidade partilhada entre nações e instituições multilaterais”. Sublinhou que “cada dólar investido em aviso prévio representa uma poupança de sete dólares em reconstrução e, mais importante, representa vidas protegidas”.
O Presidente da República destacou também o empenho na cobertura universal e inclusiva, investindo na “educação climática das comunidades, nas escolas primárias, escolas secundárias, nas universidades e na participação dos jovens como multiplicadores de conhecimento”.
Reafirmou o compromisso de Moçambique com a Declaração de Maputo sobre Aviso Prévio para Todos, assinada pelos governos da região, que visa colmatar “o fosso entre o alerta e a acção antecipada para salvar vidas no mundo inteiro”.
Por fim, lançou um apelo global às Nações Unidas, Fundos Climáticos, Instituições Financeiras e parceiros de desenvolvimento para que “reforcem o apoio técnico e financeiro aos países mais vulneráveis, como Moçambique”. A crise climática é “o maior teste à nossa consciência colectiva como humanos”, sendo que a “ciência já nos deu as ferramentas; a tecnologia já nos mostrou o caminho. O que falta é o compromisso moral e político mundial de não deixar ninguém para trás”.